PARA REFLETIR:
Durante muitos anos se ensinou nas escolas
de administração que ser um bom gestor era suficiente para o sucesso de uma
organização. A ênfase no planejamento estratégico, em técnicas administrativas,
em métodos organizacionais, na atenção aos aspectos financeiros, em como buscar
talentos para tornar as organizações mais eficientes e eficazes, tornou-se
disciplina obrigatória nas universidades durante muitos anos.
Jamais se contestou tais ensinamentos e
muitos administradores tinham como referência uma mesma cartilha metodológica.
Kotter e Drucker são pensadores que chamam a atenção do mundo acadêmico e
gerencial para a importância da liderança. Para eles não basta ser um bom
administrador. É necessário, mas não é suficiente.
Excelentes administradores acabaram levando
suas organizações para profundas crises, pois não conseguiam fazer com que elas
se tornassem referência em seu segmento de atuação, e, o que era mais grave,
não influenciavam seus colaboradores para que a energia coletiva fosse
canalizada para objetivos estratégicos.
Costumo comparar o estágio atual das
organizações do terceiro setor com a fase incipiente da industrialização
brasileira, em que as indústrias nascentes eram familiares e de fundo de
quintal. Isto ocorreu a partir da década de 50 e graças ao fortalecimento
daquelas micro-empresas, através da profissionalização de suas administrações,
nosso país se tornou uma potência industrial. Vimos com essa história recente o
surgimento de grandes administradores empresariais em que uma boa parte unia
competência administrativa com uma forte liderança nacional.
Atualmente, a grande maioria das
organizações do terceiro setor ainda é nascente. Estamos vivendo a primeira
infância de um setor que, neste século, será tão importante para o nosso país
como foi o setor industrial na segunda metade do século passado. Se as
organizações sociais enfrentam grandes desafios atualmente, elas enfrentarão
desafios maiores no curto prazo. À necessidade de gestores competentes une-se
uma demanda cada vez maior por fortes lideranças, que possam garantir a
sustentabilidade institucional do setor. Líderes se fazem necessários, pois
todos sabemos que no setor empresarial a sua atuação influenciou a política
pública, criando leis, incentivos fiscais, isenções de impostos, enfim, uma
política industrial que auxiliou inegavelmente o fortalecimento das empresas em
nosso país.
A prática de intervenção social através das
organizações da sociedade civil abre a oportunidade para sairmos do estado de
apatia política que estamos sentindo nas eleições deste ano e partirmos para
uma ação transformadora do homem e da sociedade. Além da ação política de médio
ou longo prazo exercida através do voto, pode-se atuar através das organizações
da sociedade civil para iniciarmos um processo imediato de transformação
social. Através da intervenção dessas organizações, o sonho de se começar uma
mudança em nossa sociedade vem se tornando uma realidade para milhares de
brasileiros. Em anos recentes, o terceiro setor vem se firmando como um
importante pólo de atuação pública em que novas lideranças despontam. O
conceito de área pública, que até recentemente se restringia ao Estado, ganhou
uma nova dimensão. A atuação de liderança pública exercida através das
organizações da sociedade civil surge como uma possibilidade de intervenção do
cidadão comum que não está no parlamento, no judiciário ou em órgãos executivos
governamentais.
Uma liderança comprometida e atuante no
terceiro setor torna-se uma prioridade para que se possa praticar efetivamente
o controle social do Estado tendo como objetivo uma política desenvolvimentista
que coloque as organizações da sociedade civil como atores estratégicos.
Fonte
MEREGE, Luis
Carlos. A liderança necessária.
Integração. [S.l.]. Disponível em:
<http://integracao.fgvsp.br/ano7/11/editorial.htm>. Acesso em: 30 abr.
2008.
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